Orlando Vicentini



ORLANDO VICENTINI

Resumo de texto de Caio Julio Cesaro, por Luis H. Mioto



ORLANDO VICENTINI, nasceu em 18 de fevereiro de 1916, em Pardinho, município de Botucatu, São Paulo. Formou-se em 1941, em Medicina, pela Universidade Fluminense, do Rio de Janeiro, onde teve contato intenso com o mundo do cinema. Em 1942, veio para Londrina.
Vicentini comprou sua primeira câmera em 1949, uma Bolex Paillard, 16mm, de origem suíça. No começo, fazia apenas filmes domésticos, registrando cenas da família. Em 1954, realizava o primeiro filme de enredo-ficção de Londrina (e possivelmente do Paraná): “Um Dia qualquer“. E ainda em 1954, outra ficção, “O Natal de 54”. Esses filmes são P&B e mudos. E têm em média 10 minutos.
Vicentini sempre quis sonorizar os seus filmes, mas nunca conseguiu, porque era muito caro. Archibaldo Vicentini, filho de Orlando, conta que a diferença de custo de um filme sonoro e um filme mudo, era muito grande. Seu pai usava então o recurso de sincronia com um gravador que continha numa fita as músicas que faziam parte do filme.
Em 1958, Vicentini inicia o seu projeto mais significativo: a realização do filme “Londrina 1959“, em homenagem aos 25 anos da cidade, registrando a cidade e realizando uma poética edição. E, ainda, filmou muitos eventos sociais, casamentos, batizados e festas de amigos e familiares, além dos muitos pedaços de filmes inacabados que começava a fazer, mas não terminava por falta de tempo, devido à profissão.
Gostava muito de cinema, lia muitos livros, assinava revistas internacionais sobre o assunto, chegando a formar uma pequena biblioteca sobre o gênero, em sua casa. Nesta época, de 1955 a 1960, com uma turma de amigos aluga filmes de uma distribuidora em Botucatu (SP) através de catálogos para assisti-los em sua casa. Orlando Vicentini também participou de um cineclube que existiu em Londrina, de 1958 a 1961, e que funcionava em uma sala da Catedral.
Archibaldo conta que sozinho seu pai não conseguia fazer os filmes, por causa do peso e da quantidade de equipamentos que tinha que transportar nas filmagens, além da complexidade técnica dos equipamentos. Archibaldo o ajudou em todos os filmes na montagem dos equipamentos. A esposa, Dona Cecília, achava aquele trabalho todo dispendioso. Na roda de médicos da época, tinha fama de comprar filmadoras em vez de fazendas. Assim, quando Vicentini comprava algum equipamento novo escondia da esposa pelo menos por um tempo, deixando guardado no seu consultório. Como filmava junto com o pai, Archibaldo sabia de tudo. E quando, por ventura, aparecia com uma câmera nova em casa, dizia primeiramente à esposa que era emprestado de um de seus amigos.
Para a produção do filme “Londrina 1959“, comprou uma lente cinemascope e usou filme Kodachrome.  Vicentini sempre achou “Londrina 1959” um filme muito longo, conta Archibaldo, por isso, ao longo dos anos, ia tirando imagens do filme, sempre o enxugando mais. A montagem inicial tinha de quarenta a cinquenta minutos, a versão final, entregue à TV Coroados em 1984 na ocasião do Cinquentenário de Londrina, tinha vinte minutos, que foram mostrados na íntegra pela Televisão em rede estadual, num especial sobre a cidade.
Vicentini gostava de usar simbolismos nas imagens que fazia. No filme “Londrina 1959” usou fusões, trucagens, câmera lenta e câmera rápida. Era autodidata. Planejava uma cena, queria um efeito, então perseguia-o até alcançá-lo. Sua obsessão era atingir o efeito desejado. Também é por isso que Vicentini tem muito material inacabado, às vezes, não conseguia fazê-lo. No entanto, o problema maior dos filmes inacabados era a falta de tempo, já que eram feitos em finais de semana ou férias, fazia suas imagens numa relação de prazer, nunca tendo levado para o lado do profissionalismo e nem buscou participar de festivais ou mostras de filmes.
No final da década de 50, comprou um equipamento completo para filmar em terceira dimensão (3D), fez algumas experiências, mas acabou abandonando o equipamento por considerá-lo muito complicado. Fez algumas experiências junto a médicos, filmando cirurgias para fins científicos, colaborando com o avanço da técnica de cirurgia portacava (cardíaca). Também teve equipamento fotográfico e fez muitas fotos. Chegou a comprar uma câmera 8mm, editor e projetor, teve também uma Super-8. Porém, realizou apenas filmes domésticos com estas câmeras. É que nesta época, Archibaldo Vicentini, seu ajudante, havia saído de Londrina para cursar a faculdade e Orlando perdia o seu companheiro e auxiliar. Orlando Vicentini passa então, a fazer projetos para os períodos de férias de Archibaldo. Entretanto, estes projetos não chegam a realizar-se.

Don Geraldo Fernandez, Orlando Viventini e Cecília Tereza Clark Vicentini

Orlando com amigos, Carlos Costa Branco e menino Carlos José da Costa Branco.

Orlando com sua neta, em 1977. 

Orlando e seu filho, Archibaldo. Foto de 1988.

 Em 1989.

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Vicentini, o médico cineasta

Pediatra chegou a Londrina em 1942 e fez filmes de ficção e documentários. Imagens e equipamentos foram doados na semana passada ao Museu Histórico
(Reportagem de Fabio Luporini, para o Jornal de Londrina - dia 29 de novembro de 2012)

O pediatra que chegou ao Norte do Paraná em 1942 para ganhar a vida na promissora Londrina, e se transformou mais do que um médico interiorano. Virou cineasta. Orlando Vicentini, morto em 1990, deixou que o hobby registrasse uma parte importante da história da jovem cidade. “A profissão dele era médico. Mas ele era fotógrafo e cinegrafista amador. Nas horas vagas, registrava”, conta Arquibaldo Tomás Vicentini, filho do médico. Orlando foi um dos destaques da Mostra Londrinense de Cinema e Memória – que prossegue até amanhã no Museu Histórico de Londrina –, e teve dois filmes exibidos durante a programação: Um dia qualquer (1954) e Londrina 1959 (1959).
Orlando Vicentini veio a Londrina atraído pelas promessas de um tempo em que a cidade crescia por causa do ouro verde: as plantações de café. “A cidade tinha carência de médicos, estava começando. Era nova”, conta o filho. Orlando chegou a ser presidente da Associação Médica de Londrina (AML). Era natural de Botucatu, no interior de São Paulo. Mas tinha se formado em medicina no Rio de Janeiro. Já veio casado. E aqui mantinha vários hobbys, entre eles a fotografia, o cinema, a música e a literatura. “Meu pai colecionava discos e livros.”
Peripécias
Conforme tinha tempo, Orlando registrava as peripécias dos filhos, as reuniões em família. Começou assim, filmando passeios e brincadeiras das crianças. E, aos poucos, resolveu fazer pequenos enredos, histórias simples. Um dia qualquer (1954) surgiu assim. “É uma história rápida, de família. Demorou três meses para filma. Eram cenas encenadas, dentro da nossa família mesmo. Ele dirigia, e a nós éramos os atores.” A história narra um dia na vida de uma família. “São algumas cenas domésticas.” Arquibaldo tinha, na época, mais ou menos nove anos de idade. Lembra pouco desse tempo, das cenas, das filmagens.
Outro filme de Orlando tinha características diferentes: Londrina 1959 (1959) era uma espécie de documentário, gravado para marcar o Jubileu de Prata da jovem cidade. Nesse tempo, o filho, já um pouco mais velho, também ajudou o pai a carregar equipamentos pra lá e para cá.
Cenas
Em Londrina 1959, cenas coloridas mostram um parque de diversões próximo ao atual Museu Histórico; o pátio do Colégio Mãe de Deus, ainda com a terra roxa do Norte do Paraná, com diversas crianças brincando de bola ao mastro. O filme traz também um retrato aéreo de uma cidade ainda não tomada pelos arranhas céus e envolta por cafezais, além de uma imagem do Teatro Ouro Verde, destruído por um incêndio no início deste ano; ou então da catedral em estilo gótico, também destruída, mas pelo progresso, que ergueu o novo templo, mais moderno.

Muitas das imagens de Orlando Vicentini foram perdidas. Uma delas é a encenação do nascimento de Cristo com atores infantis. Outras precisam ser restauradas. Equipamentos como câmeras, lentes, projetores, editores e coladores de filmes foram doados ao Museu Histórico Padre Carlos Weiss na semana passada. “Meu pai filmava em 8mm e 16mm. Alguns registros também serão doados, diz o filho. “Ele se divertia muito”, lembra.