Karl Otto Muller



KARL OTTO MÜLLER
por Rodrigo Prado Evangelista

Oficialmente, a primeira sessão de cinema, ou a mais conhecida do final do século XIX, aconteceu em 28 de dezembro de 1895 em Paris, promovida e organizada por Auguste e Louis, os irmãos Lumiére, também realizadores das obras exibidas. Muito diferente do que podemos ver numa sala de cinema, ou na sala de nossa casa, aquelas confecções cinematográficas eram cenas curtas, que tinham como matéria-prima o cotidiano. Não havia atores profissionais, cenários e figurinos elaborados em estúdio, muito menos roteiro e trilha sonora. Mesmo na ausência desses aspectos tão comuns na trajetória cinematográfica, os filmes dos irmãos Lumiére, se é que podemos considerar assim, impactavam, afetavam intensamente a vida das pessoas. A rua por onde andavam, a saída do trabalho, o trem que trazia e levava tantas vidas, como destinos de um feixe de luz, de uma projeção. O cinema já começa a desenhar seus primeiros passos de reconhecimento, de possibilidade de uma pessoa se ver numa imagem projetada numa tela. Na década de 70, Oswald Nixdorf, imigrante alemão, já há muitos anos no Brasil, chora ao ver as imagens de uma película de 16 mm, que tinha sido comprada por seu filho Klaus. Reconhece pessoas que conviveram com ele, que vieram para o Brasil no começo do século XX, colonizar terras e construir histórias. Eram filmagens realizadas por Karl Otto Müller, também de origem alemã, durante os anos de 1934 e 1935, ficaram conhecidas como “Brasil: moradores alemães no norte do Paraná”. O olho mágico percorre o intervalo entre Ourinhos e Jataizinho, se envereda pela Colônia Heimital e a Companhia de Terras do Norte do Paraná. Plantações de café, mata virgem, gente, madeira, Oswald Nixdorf e sua família, envolvidos por uma câmera filmadora, pelo encontro entre Müller e um punhado de vidas que acontecia. Documento, registro, o encantamento de uma vida com tantas outras. Memória no ventre, caminho a ser desbravado, convite para o passado, vida que segue.


Londrina em 1935, trecho do filme de Otto Müller.

Filme “BRASIL: MORADORES ALEMÃES DO NORTE DO PARANÁ” (Norte do Paraná – 1934/35).
ARGUMENTO: O filme é um registro feito pelo alemão Karl Otto Muller, mostrando a viagem de trem de Ourinhos até Jataizinho; a Colônia Heimital e a sede da Companhia de Terras Norte do Paraná, em Londrina; mata virgem e plantações de café; Campos experimentais de rami, cana-de-açúcar, alfafa, café, mamona e mandioca na propriedade de Oswald Nixdorf e Nixdorf com os filhos, orientando os trabalhadores da fazenda.
Documentário. 16mm . Branco e Preto . Mudo . 17 min. e 30 segundos

 Karl Otto Muller era amigo de infância de Oswald Nixdorf. Os dois estudaram juntos em Bremem, Alemanha. Nixdorf nunca filmou. Oswald Nixdorf nasceu em 7 de junho de 1902, em Bremen. Formou-se engenheiro agrônomo. Veio para o Brasil em 1932, financiado pelo Ministério da Agricultura da Alemanha, quando era ministro Eric Koch-Weser, a fim de preparar um lugar para receber outros alemães. Oswald fora incumbido de encontrar um lugar no Brasil ou na Argentina que pudesse receber cidadãos da Alemanha, já que o desemprego no país era muito grande. Oswald Nixdorf não chegou a ir até a Argentina. Na Inglaterra, iniciou as negociações com a Paraná Plantations. Chegou ao Norte do Paraná, gostou do que viu e fundou a Gleba Roland, que originou a cidade de Rolândia. Idealista e empreendedor, Nixdorf comprava e vendia terras e a produção local.
Numa viagem que Oswald fez à Alemanha, encontrou o amigo de infância, o professor Karl Otto Muller, e lhe contou sobre os negócios no Norte do Paraná.
Pouco tempo depois, Muller vem ao Norte do Paraná visitar Nixdorf e traz consigo uma câmera portátil, 16 mm, e faz imagens da região. O filme é revelado somente quando Karl Muller retorna à Alemanha. Bem mais tarde, em 1973, Klaus Nixdorf, filho de Oswald, recebe um telefonema de Otto Muller, da Alemanha. Muller já estava aposentado como professor e ganhava muito pouco. Remexendo em suas coisas, encontrou o filme sobre o Norte do Paraná. Como, para sobreviver tinha que fazer algumas vendas, ligou para Klaus e ofereceu-lhe o filme.
Klaus conta que o valor pedido por Muller era um absurdo, “muito caro mesmo“, mas como na época estava bem financeiramente, conversou com seu irmão e resolveram comprar o filme. Compraram sem vê-lo. A família Nixdorf nunca tinha visto o filme. Klaus diz que seu pai, Oswald Nixdorf, chorou quando viu o filme, pois “ali estavam imagens de muitos dos colonos que trabalhavam com ele na época“. Em 1974, Klaus mandou fazer três cópias do filme em 16mm e as doou às prefeituras de Rolândia, Cambé e Londrina. Todas estas cópias sumiram. Não há informações sobre o paradeiro delas.
O Original continua com Klaus Nixdorf. Há cerca de cinco anos, Klaus emprestou o filme para o Museu Histórico de Cambé fazer uma cópia em 16mm.
O original tem alguns dizeres em alemão. Mas Klaus Nixdorf mandou fazer legendas em português, trocando por aquelas em alemão.
Há uma versão em VHS do filme. Ela foi feita na TV Tropical de Londrina, há alguns anos atrás. O Museu Histórico de Londrina e Cambé e a Secretaria Municipal de Educação de Londrina têm uma cópia desta fita em VHS. E, que são usadas como material didático nas escolas da rede municipal.*

* Texto de  Caio J. Cesaro.