Renato Melito



Renato Melito  

CINEMA DE CAVAÇÃO – O LADO B DAS PELÍCULAS
(texto de Tony Hara)




  Cinema de cavação. Essa expressão foi criada na década de 1920. Os cavadores eram os cinegrafistas e cineastas que faziam filmes por encomenda. Breves documentários que incensavam os feitos dos poderosos de plantão: grandes fazendeiros, capitães da indústria e políticos bem sucedidos. Esses cineastas de aluguel produziam filmes para divulgar empresas, obras do governo e campanhas políticas. Mais tarde, nas décadas de 30 e 40, essa prática se sofisticou com a sonorização dos filmes. Os cavadores partiram para a produção dos “cines-jornais”, reportagens que também tinham a função de promover os governantes e divulgar as empresas comerciais. Onde houvesse dinheiro, vaidade e ambição pelo poder, lá estariam os cavadores com suas câmeras e sua lisonjeira atenção.
   O cineasta Renato Melito aprendeu o seu ofício nesta escola, no cinema de cavação. Em meados da década de 40, com 26 anos, Melito filmava os feitos do governador de São Paulo, Ademar de Barros, aquele que se tornou célebre pelo slogan “rouba, mas faz”. Em 1945, o cineasta inicia a sua cavação pelas terras paranaenses. Começa acompanhando o governador Moyses Lupion em cerimônias públicas. Depois descobre o Norte do Paraná, onde verdadeiramente corria o dinheiro por causa do fausto do café.
   Em Londrina fundou a Rilton Filmes, e passou a registrar a corrida do ouro verde e o nascimento de várias cidades no norte e noroeste do Estado, entre elas Mandaguari, Maringá, Umuarama, Arapongas, Cascavel, Loanda... Ao longo de mais de 30 anos Renato Melito filmou e teceu loas às realizações da elite política e econômica da região. No seu cine-jornal Atualidades Paranaenses todos os governantes do Estado, independente da cor partidária, eram construtores do progresso, desbravadores de um novo tempo de prosperidade. Atuaram frente às lentes de Melito, os governadores Moyses Lupion, Bento Munhoz, Ney Braga, Paulo Pimentel e Leon Perez.
   Muitos desprezam essa escola de cinema, esse fazer cinematográfico “chapa branca”, comprometido apenas com o dinheiro e com história oficial, a história dos vencedores. Mas vale lembrar a observação sagaz do cineasta Sylvio Back: “Hoje, ironicamente, esse acervo ainda que contaminado é de grande valia. Com o passar dos anos suas imagens foram perdendo a pertinência ideológica, mas não histórica. Ou seja, do utilitário e mercantilista cinema de cavação resta um inestimável retrato de um Brasil que parecia nunca ter existido. Uma cinemateca irrepetível. Quase inocente aos nossos olhos. No entanto, a descoberta do seu avesso enseja o desmonte da solenidade moral com que a história oficial sempre procura perpetrar suas versões do passado.”
   É verdade, há algo didático nesses filmes. Ao observarmos a obra dos aduladores, dos cineastas cavadores podemos ver claramente de que material são feitos os homens públicos. Podemos ver os artefatos usados para a construção dessas mercadorias. Ao que parece, os cavadores de ontem são os marqueteiros políticos de hoje. No cinema de cavação o povo sempre aparece como figurante, como plateia, o rebanho ordeiro que bate palmas em festas cívicas e em jornadas esportivas organizadas pelo poder instituído. As crianças brincando nos parques representam o zelo pelo futuro da nação. As máquinas nas ruas asfaltam o caminho para o progresso e prosperidade dessa elite. Mas eles querem fazer crer que se trata da prosperidade de todos. Mentira. No cinema de cavação dá pra perceber a armação da cena. É mais inocente mesmo. Há algo de ingênuo nesse exercício de convencimento e persuasão. Mas estratégias discursivas usadas hoje em dia estão todas lá. 
    Se realmente prestássemos atenção no trabalho realizado pelos cavadores, talvez não fôssemos presas tão fáceis do marketing político atual. Talvez soubéssemos reconhecer com mais precisão o modo como se constrói um discurso e se articula uma visão de mundo, que no fundo, é apenas cena, distração, conversa pra boi dormir. Blá blá blá de papa votos e nhém nhém nhém de vendedor de ilusões. 
   A obra deixada pelo cineasta cavador Renato Melito, hoje sob a guarda e responsabilidade do Museu Histórico de Cambé, ainda tem muito a revelar sobre a construção dos homens públicos e dos produtos do mercado político. E na medida em que o tempo passa, torna-se cada vez mais importante porque se trata também do registro da vida cotidiana do auge do ciclo cafeeiro no Norte do Paraná. São raros os registros fílmicos dessa época. E do acervo de Melito, três títulos têm especial interesse para os londrinenses: Jubileu de Prata de Londrina (1959), Londrina: A Capital Mundial do Café (1962), Londrina: Terra da Promissão (1969). Quando é que veremos esses filmes?

Nos vídeos abaixo, exemplos do trabalho realizado por Renato Melito em suas andanças pelo Norte do Paraná. Esse material faz parte do Acervo Maringá Histórico que tem outros filmes telecinados desse cineasta/propagandista do sertão.  


"Caminhando com o progresso de Mandaguari" (anos 50)



Desfile 10º aniversário de Maringá (10 de maio de 1957)




Campo de pouso de Maringá (anos 50)




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Renato Melito
Texto de Caio J. Cesaro.


RENATO MELITO, nasceu em 1918, na capital paulista. Começou a filmar por intuição. Era vocação mesmo, disse ele. Mais tarde passou a trabalhar com o Governador de São Paulo, Adhemar de Barros. O Governador do Paraná, Moisés Lupion, em uma de suas visitas a São Paulo, viu Melito filmando e convidou-o para fazer o mesmo trabalho aqui no Paraná. Renato Melito foi para Curitiba em 1945. Não se adaptou ao clima frio da capital paranaense. Veio para Londrina, onde se fixou com a Rilton Filmes, empresa cinematográfica de sua propriedade. Viveu quarenta anos no Paraná, do quais trinta em Londrina.
A primeira câmera que teve para filmar era amarrada com arame. Depois, adquiriu uma Eymo 35mm e por fim, uma Arriflex 35mm, com a qual seria possível filmar até um longa-metragem, segundo Melito. Renato Melito conta que ninguém nunca deu valor ao seu trabalho.
“Naquela época, só os americanos realmente ganharam dinheiro com cinema no Brasil.”
Melito passou a sua mocidade fazendo filmes, mas foi através deste ofício que conheceu o Brasil inteiro e parte da América Latina. Com orgulho conta: “Conheci o meu país com o dinheiro que ganheifazendo filmes.”
Melito foi o único profissional do cinema a atuar em Londrina e também o único a exercer o cinema de cavação. Ele pagava os custos dos seus filmes com o dinheiro que arrecadava do ‘merchandising’ inserido nos filmes.
Renato Melito rodou mais de cem quilômetros de filmes em 35mm. Chegou a fazer alguma coisa em 16mm, mas a quantia é insignificante comparada ao total produzido em 35mm.
Na década de 50/60, Renato Melito tinha um cine jornal, chamado “Cine Jornal Rilton Filmes”. Melito filmou até 1971. Nunca fez nada de ficção. Só registros ou documentários.
Renato Melito fazia tudo praticamente sozinho: direção, roteiro, montagem e produção dos filmes. Fez filmes em branco e preto e colorido. Eram todos curta-metragem, com média de quinze a vinte minutos de duração.
Dentre os seus registros ou documentários constam: a posse do Arcebispo D. Geraldo Fernandes em Londrina, as primeiras Exposições Agropecuária de Londrina, “Jubileu de Prata de Londrina“(1959), “Londrina: A Capital Mundial do Café” (1962), “Londrina: Terra da Promissão” (1969) – não foi possível identificar o destino desses filmes – e muitos outros.
Melito filmou em Cambé, Ibiporã, Arapongas, Maringá… Segundo ele, quase todo o Paraná, inclusive a região de Curitiba. E os filmes eram mostrados nos cinemas das cidades. Melito enviava os filmes para serem revelados em São Paulo. De São Paulo também, eram os narradores de seus filmes.
Segundo João Milanez, diretor-presidente da Folha de Londrina, Renato Melito teria feito mais filmes sobre o Norte do Paraná do que o próprio Hikoma Udihara.
Melito afirma que Londrina ficou popularizada como “A Capital Mundial do Café” graças ao filme homônimo que fez.
“Londrina já era a capital mundial do café, mas ninguém tinha o costume de chamá-la assim. A partir do filme que fiz, o nome se popularizou.”

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Londrina se via no cinema

Renato Melito filmou eventos, reuniões, inaugurações e diversos fatos sociais entre os anos 40 e 60; filmes eram exibidos nas salas da época.
(Reportagem de Fábio Luporini, para o Jornal de Londrina - dia 28 de novembro de 2012.
Telejornais para cinema. Era como os filmes de Renato Melito eram conhecidos em Londrina. Acontecimentos sociais, eventos, inaugurações e tantas outras produções eram registradas para serem transmitidas nas salas de cinema londrinense. Uma espécie de coluna social da época, de um tempo que abrange ao menos duas décadas, entre 1940 e 1960. Melito sabia filmar. Então, mantinha uma equipe: o redator e roteirista era o jornalista Edison Maschio; o locutor e narrador das histórias, Oliveira Júnior.
Alguns registros do cineasta londrinense foram destaques da Mostra Londrinense de Cinema e Memória, que prossegue até o dia 30 no Museu Histórico. “Eu batia os textos da reportagem dele”, conta Edison Maschio. Os roteiros narravam o que aparecia na tela. “Fazia a decupagem [organizavam o texto] e o Oliveira Júnior que gravava. Depois exibia nos cinemas”, lembra. Melito, além de ser dono de um jornal, chamado O Repórter, tinha também uma produtora, a Rilton Filmes. “O Melito era um autodidata.”
Responsável por uma série de filmes e documentários, Melito chegou a gravar mais de 200, entre curtas e médias. Entre os registros, estão a primeira Exposição Agropecuária e Industrial de Londrina (ExpoLondrina), hoje com 52 anos. “Na época foi ali no Shangri-Lá”, afirma Maschio. Outros eventos importantes para a história da cidade também foram captados pelas lentes de Melito. Segundo Maschio, ele registrou o comício que Getúlio Vargas realizou na Praça Rocha Pombo, no centro. Ali Melito também captou um acidente entre dois aviões, em 1944, que se chocaram no ar. “Filmou casualmente”, aponta Maschio.
Melito gravou políticos, gente da sociedade, de associações como o Grêmio Literário e Recreativo Londrinense. Um dos mais importantes registros, o cineasta filmou em cores. “Ele fez um documentário sobre a história do café, mostrando desde como se derrubavam as matas, plantavam o café em cova, colhiam e entregavam, todo o processo”, diz. O filme foi parar nas mãos da Rainha Elizabeth II, que ainda está viva. “O Assis Chateaubriand veio a Londrina lançar a TV Coroados. Ele, que era embaixador do Brasil na Inglaterra, viu o filme e ficou empolgado. Pediu uma cópia para levar para a Rainha Elizabeth II, para mostrar como era a produção do café”, comenta Maschio.
Com o tempo, Melito abandonou os filmes em Londrina e se mudou para Cascavel. “Ele tentou vender os filmes para o Governo do Paraná, mas não conseguiu. Depois tentou vender em Londrina, na época do prefeito Antônio Belinati, mas também não deu”, ressalta. Eram imagens históricas, de uma cidade em progresso. Até que, há 15 ou 20 anos, o Museu de Cambé comprou o acervo.

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Texto de Tony Hara

   No ano de 2010, o jornalista Edison Maschio lançou o seu terceiro livro intitulado Histórias Ocultas. A publicação feita artesanalmente, custeada pelo próprio autor, circula por aí quase que clandestinamente, de mão em mão, como se fosse uma pequena raridade. Chega a ser uma situação estranha, em pleno reinado do Deus Google – o que tudo vê e compartilha –, uma obra fora do sistema. Um livro difícil de ser encontrado, ainda não rastreado pelos mecanismos de busca e de divulgação tão característicos desse novo tempo em que tudo deve se tornar acessível para existir.
   Neste último livro, Edison Maschio abandona a prosa ficcional que marca os seus primeiros trabalhos, Escândalos da Província (1959) e Raposas do Asfalto (1984). O escritor de 77 anos experimenta agora um texto memorialístico, sem nostalgia, mas ansioso por rememorar antigas amizades e fatos da história de Londrina que ficaram atolados no lamaçal da memória. Maschio conta breves causos envolvendo amigos que estiveram ao seu lado, como é o caso dos jornalistas Dicesar Plaisant e Pedro Vergara, do médico João Dias Ayres, do advogado Valter Mota Campos e do boêmio lendário, Mário Fuganti.
   Histórias curiosas também são rememoradas. Uma delas aconteceu em 1951, e ficou conhecida como o escândalo do “Barba Azul da Vila Nova”. O personagem dessa história foi o vereador de Londrina, Athaide Teixeira da Silva. Ele foi parar no Cadeião da Sergipe por ser casado com 14 mulheres que viviam sob um regime de terror, implantado pelo homem que “recebia mensagens de um ‘delegado do espaço’ e tinha poderes para purificar o próximo e apagar-lhe os pecados”. Apesar de um tanto lunático, o tal Barba Azul da Vila Nova, trouxa não era. Segundo Maschio, Athaide Silva fugiu da cadeia com a “ajuda” de policiais e foi parar no Paraguai. Na época da fuga um policial militar foi destacado para efetuar a prisão no país vizinho, mas voltou de lá num caixão, assassinado numa tocaia, supostamente armada pelo vereador londrinense.
   Mas entre tantas histórias ocultas vale a pena destacar uma informação que acaba com um mistério de longa data. Em dezembro de 2001, o então jornalista da Folha de Londrina, Rodrigo Grota, escrevia uma matéria sobre os cineastas e documentaristas que registraram imagens de Londrina a partir da década de 30. Nesta reportagem há uma referência ao jornalista Renato Melito, fundador da primeira empresa cinematográfica de Londrina. Em novembro de 2009, Grota amplia essa matéria escrevendo agora para a revista Taturana. Cito a passagem do artigo publicado na revista, que tem como título História do Cinema de Londrina:

Segundo o jornalista e pesquisador Caio Cesaro, Renato Melito começou a filmar por intuição, vocação mesmo. Nos anos 1940, ele cria na cidade a Rilton Filmes, sua empresa cinematográfica. O pesquisador o considera o único profissional do cinema a atuar em Londrina e também o único a exercer o chamado ‘cinema de cavação’: ‘Ele pagava os custos dos seus filmes com o dinheiro que arrecadava do merchandising inserido nos filmes’, diz Cesaro. Em 30 anos de Londrina, Renato Melito rodou mais de 100 quilômetros de filmes em 35 mm. Filmou até 1971, produzindo sempre registros ou documentários, entre os quais: a posse do Arcebispo D. Geraldo Fernandes em Londrina, as primeiras Exposições Agropecuárias de Londrina, ‘Jubileu de Prata de Londrina’ (1959), ‘Londrina: A Capital Mundial do Café’ (1962), ‘Londrina: Terra da Promissão’ (1969). Segundo Cesaro, o paradeiro desses filmes é desconhecido.

   Além da Rilton Filmes, Renato Melito também dirigia nos anos 50 o jornal O Repórter. Somente em 1954 é que ele decidiu abandonar de vez o jornalismo impresso para se dedicar aos filmes. Edison Maschio conta como Melito foi impelido a abandonar as lides gráficas: “O Repórter alertava o público para o perigo de comprar ações da Cervejaria e Maltaria Londrina montada por empresários sem credencial moral, verdadeiros arrivistas. A campanha provocou imediata reação da Cervejaria que se declarou vítima de ataques difamatórios. (...) Numa promoção bem articulada pelos ‘picaretas’, os diretores da Cervejaria foram homenageados por expressivos nomes do mundo econômico com um jantar de desagravo. Para completar o imbróglio, os ‘picaretas’ passaram a ameaçar de morte o jornalista Renato Melito!”.
   Essa era uma época em que corretores (aqui chamados de ‘picaretas’) zanzavam pela cidade de Londrina a procura de compradores de ações de empreendimentos que só existiam no papel. O golpe dos “papéis pintados” atraiu para Londrina vários vigaristas de boa lábia que conseguiram iludir as vítimas com promessas de altos rendimentos em curto prazo de tempo. O negócio da Cervejaria Londrina, ao contrário da expectativa do jornalista, tornou-se realidade, mas outros, como o da Companhia Jacutinga de Café Solúvel, só deixou nas mãos dos otários o atestado de burrice. Isto é, ações ao portador tão quentes quanto as escrituras de um lote de terra no planeta Marte.
   Após esse episódio Renato Melito vende seu linotipo para a Folha de Londrina e se dedica exclusivamente a Rilton Filmes. Segundo Edison Maschio, foram produzidos mais de 200 filmes sobre acontecimentos políticos e sociais do norte do Paraná. Além dos filmes citados por Rodrigo Grota, vale a pena destacar também alguns trabalhos rememorados por Maschio: imagens do comício de Getúlio Vargas na praça Rocha Pombo, registros dos bailes do Grêmio Literário e Recreativo Londrinense, do nascimento das cidades de Maringá, Umuarama e Cianorte; e imagens do acidente aéreo ocorrido em 1944, que fez chover destroços de dois aviões em plena praça onde Getúlio fez o seu comício.
   Nas Histórias Ocultas, Maschio revela o paradeiro desses filmes que registram cenas de Londrina e da região entre as décadas de 1940 a 1970. A história do desprezo pelos documentos que compõem a memória local é tão surpreendente quanto o próprio destino dos filmes, por isso, cito a passagem na íntegra:

Passados alguns anos, em 1997, Renato Melito resolveu oferecer seu acervo cinematográfico às municipalidades, dentre as quais, a de Londrina, animado pelo desejo de preservar um patrimônio na memória histórica. Por incrível que pareça, ninguém demonstrou o menor interesse; desiludido com o descaso público decidiu doa-lo à Biblioteca Pública de Cambe, onde se encontra a disposição dos pesquisadores. O gesto desprendido de Renato Melito foi recebido com entusiasmo pela municipalidade cambeense, que o distinguiu com o título de “Reconhecimento Público”, outorgado em sessão solene pelo Legislativo.    

Assim como as Histórias Ocultas de Edison Maschio, eis aí mais uma obra ainda não flagrada pelo deus que tudo vê e compartilha. A Biblioteca Pública de Cambé* guarda em seus arquivos uma pequena raridade visível que ainda não existe.

*O acervo de Melito se encontra em posse do Museu Histórico de Cambé.